José Saramago
Escritor Português, nascido
em 16 de novembro de 1922 em uma aldeia ao sul do país, iniciou sua atividade
literária em 1947, com o romance “Terra do Pecado”. Seus pais eram analfabetos.
Sua origem influenciou o modo de escrever, caracterizado pela liberdade no uso
da pontuação. Recebeu em 1998, o Prêmio Nobel de Literatura.
Publicou
várias obras desde então, mas dentre seus escritos, o que mais me interessou
foi “Ensaio sobre a cegueira”, publicado no ano de 1995 e adaptado para o
cinema em 2008 pelo brasileiro Fernando Meirelles. Quando tive o primeiro
contato com o livro, eu pensei: “Meu Deus, a editora errou, esqueceram-se de
colocar pontuações!” O livro (não só ele, dado que era uma característica do
autor) é livro do uso de pontuações, traz uma critica muito pertinente,
temáticas fortes como a transformação de homens em animais em busca da
sobrevivência.
Pouco
a pouco todos os personagens começam a sofrer da “cegueira branca” e são presos
em um manicômio por ordem do governo, acreditando que é uma doença contagiosa,
somente uma mulher consegue enxergar e guiar um grupo. Saramago presa pelo
anonimato dos personagens, todas as regras dos homens são quebradas, os
personagens esquecem-se de sua humanidade e passam a agir como bichos. È ai que
o autor coloca sua questão principal, além dos questionamentos sobre enxergar X
ver.
Enfim,
existem muitas outras questões existentes dentro do enredo do texto, mas que
não cabem ser ditas aqui, que é um breve contexto sobre o autor, vale apena
conferir suas obras, segue um trechinho de “Ensaio sobre a cegueira” para
deixar um gostinho de quero mais!
“Não
lhe encontro qualquer lesão, os seus olhos estão perfeitos. A mulher juntou as
mãos num gesto de alegria e exclamou, Eu bem te tinha dito, eu bem te tinha
dito, tudo se ia resolver. Sem lhe dar atenção, o cego perguntou, Já posso
tirar o queixo, senhor doutor, Claro que sim, desculpe, Se os meus olhos estão
perfeitos, como diz, então por que estou eu cego, Por enquanto não lhe sei
dizer, vamos ter de fazer exames mais minuciosos, análises, ecografia,
encefalograma, Acha que tem alguma coisa a ver com o cérebro, É uma
possibilidade, mas não creio, No entanto o senhor doutor diz que não encontra
nada de mau nos meus olhos, Assim é, Não percebo, O que quero dizer é que se o
senhor está de facto cego, a sua cegueira, neste momento, é inexplicável,
Duvida que eu esteja cego, Que ideia, o problema está na raridade do caso,
pessoalmente, em toda a minha vida de médico, nunca me apareceu nada assim, e
atrevo-me mesmo a dizer que em toda a história da oftalmologia, Acha que tenho
cura, Em princípio, porque não lhe encontro lesões de qualquer tipo nem
malformações congé-nitas, a minha resposta deveria ser afirmativa, Mas pelos
vistos não o é, Só por cautela, só porque não quero dar-lhe esperanças que
depois venham a mostrar-se sem fundamento, Compreendo, Pois é, E deverei seguir
algum tratamento, tomar algum remédio, Por enquanto não lhe receitarei nada,
seria estar a receitar às cegas, Aí está uma expressão apropriada, observou o
cego. [...]Nessa noite o cego sonhou que estava cego." ( Ensaio sobre a
cegueira, José Saramago, 1995)
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