Entrevista Entrelinhas & Afins com Bernadette Lyra:
Bernadette Lyra nasceu em Conceição da Barra, Espirito Santo. Formada em Letras pela UFES, doutora em cinema pela ECA/USP, pós-doutorada pela Université René Descartes, Paris V Sorbonne, França, e mestre em comunicação pela ECO/UFRJ, atualmente leciona no curso de mestrado em Comunicação Audiovisual da Universidade Anhembi Morumbi e é cronista do jornal A Gazeta de Vitória-ES.
1- Bernadette você é
escritora e formada em Letras, quando sentiu que faria da escrita o seu sentido
de vida?
R. Desde criança eu me apaixonei pelas histórias contadas por
meu avô, à luz do lampião, naquelas noites sem luz elétrica, em Conceição da
Barra. Logo que aprendi a ler, descobri essas mesmas histórias e muitas outras
nos livros. Ficava horas lendo, enquanto meus irmãos e meus coleguinhas de
grupo escolar brincavam. Por isso, todos me achavam uma menina muito esquisita.
Mas o prazer de descobrir que as histórias podiam ser escritas e impressas com
tinta e papel foi decisivo para que eu quisesse também escrever tudo aquilo que
as lendas narradas por meu avô faziam
brotar em minha imaginação. Mais tarde, já aluna do segundo grau no Colégio do
Carmo, tive um professor de Português que, ao ler uma pequena redação minha
feita em sala de aula, disse que eu era uma escritora. Era tudo de que eu
precisava para tomar coragem e começar a publicar. Daí à frente, a literatura
tomou conta de vez de minha vida!
2- No livro a Capitoa é retratada a história da primeira mulher
que conseguiu governar um pedaço de terra no Brasil depois da morte de seu
marido Capitão Mor, ao escrever este livro qual foi o seu principal objetivo? E
qual o público alvo que a senhora pretendia atingir?
R. Eu quis resgatar um pedaço do passado muito distante da
História do Espírito Santo e, ao mesmo tempo, resgatar a memória de uma mulher
que foi parte integrante dessa História, Dona Luiza, a terceira donatária da
capitania. Ela ficou esquecida no passado pois a História costuma relegar as mulheres a um
papel secundário. Assim foi que o
passado caiu sobre a dama Luiza como um pesado manto de sal. Nos anais
quinhentistas, quase nada sobrou sobre ela. As duas ou três linhas que a mencionam
estão sempre metidas nos feitos dos homens como apêndices ornamentais.
3- Porque o título A CAPITOA?
R. Era uma vez uma dama que se chamava Luiza. Até hoje,
ninguém se arriscou a afirmar qual era seu sobrenome: Grinalda, Grinaldi ou
Grimaldi. Um
dia, um dia do qual nada se sabe, nem mesmo se fazia sol ou chuva, a dama Luiza
embarcou em uma caravela, saiu de Portugal e veio para o Brasil com o marido,
Vasco Fernandes Coutinho Filho, que era herdeiro da capitania do Espírito Santo
e governou como Capitão-Mor. Isso foi em abril, 1573 Passaram-se os anos. O
marido da dama Luiza morreu e ela assumiu o governo. Então,
dizem que os fidalgos, os padres, os noviços, os aventureiros, os ouvidores, os
meirinhos, os juízes de vara, os escrivães, os oficiais da fazenda, os
burocratas dos campos e todos os moradores das vilas, dos povoados e das terras
no entorno a chamavam de “a Capitoa”. Dizem que também desse modo a denominava
a ralé dos escravos, os colonos, os peões, os indígenas das aldeias fincadas nas
praias e os selvagens emplumados que habitavam muito além das montanhas, em
pleno sertão.
4- A senhora é capixaba, então o que tem a nos dizer sobre a Literatura
do nosso estado?
R. Existe uma vida literária fervilhante em
nosso estado. Muita gente escreve, há muitos textos excelentes, porém o
problema é a publicação e, sobretudo, a distribuição dos livros. Não há muitas
editoras e não há distribuição no Espírito Santo. Alguns escritores procuram
editoras fora do estado, mas nem sempre são aceitos, pois falta um investimento
no capital cultural que tornem os capixabas conhecidos e divulgados. No
entanto, um movimento organizado de valorização da literatura produzida por
escritores que aqui nasceram ou que aqui residem poderia ter resultados
positivos.
5- O que te leva a escrever? E quais são suas
inspirações?
R. O simples fato de estar viva me faz escrever.
A literatura é o sal de minha vida! Todas as coisas que me rodeiam me inspiram,
mas aquelas que atingem minha fantasia e minha imaginação são primordiais.
6- Qual é a sua opinião sobre a grande influência
que a literatura estrangeira, principalmente os Best- Sellers, sobre a literatura
e a leitura de hoje?
R. – Os best-sellers são feitos para atingir o
mercado e vender muito. Desse modo, a literatura, que é um campo vasto e livre,
também é um campo minado. Cabe a cada
leitor ter a sabedoria de separar o joio do trigo quando escolhe o que lê.
Nesse sentido, o incentivo e o trabalho dos professores nas escolas e nas faculdades
é fundamental.
*Foto tirada na Semana Acadêmica de Letras- Língua Portuguesa, no Centro Universitário São Camilo-ES. Entrevistadora: Lorraine Dobrovosk/ Entrevistada: Bernadette Lyra
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