Hoje,
dia 29 de junho de 2015, Cachoeiro de Itapemirim comemora mais um aniversário.
Mas afinal, quem foi que instituiu esta data como dia de Cachoeiro? O
responsável por comemoramos o dia da cidade nesta data, é o poeta, jornalista,
advogado e escritor Newton Braga.
Newton
Braga iniciou seus estudos em Cachoeiro e logo após no Rio de Janeiro, em Belo
Horizonte, estudou direito e ingressou na carreira jornalística, escrevendo
crônicas literárias e reportagens. Contudo, o amor pela sua cidade natal e o
rumo de sua vida, fez com que Newton reviesse a Cachoeiro de Itapemirim e
permanecesse até 1958, quando se mudou com a família para o Rio de Janeiro.
Após seu
regresso á Cachoeiro, Newton começou a dirigir o jornal Correio do Sul, e foi
nomeado para o Cartório do 3º Ofício, foi diretor da Rádio Cachoeiro, fundou a
primeira agência de publicidade do Espírito Santo. E em 1939, criou o dia de
Cachoeiro que é comemorado a cada 29 de junho, juntamente com o título de
Cachoeirense Ausente desde 1942.
Newton
Braga escolheu esta data para homenagear o padroeiro da cidade, São Pedro, a
ideia era realiza-la no dia 25 de março, mas em consenso com outros
cachoeirenses, decidiu-se pelo dia 29 de junho. Houve resistência por parte da
igreja, que alegou que se confundiriam as duas festas. Todavia, Newton com seu
espírito pacifista, afirmou que a igreja não perderia em nada com isso, pois a
festa atrairia muita gente e se tornaria muito importante. Nasce então, o dia
de Cachoeiro de Itapemirim, o Dia de São Pedro.
Segundo
Levy Rocha, cunhado de Newton, o escritor era muito criterioso quanto a elaboração
da programação da festa, ele diversificava as atrações, que incluíam folclore,
literatura, poesia, briga de galo, caxambu e etc. Estas atrações movimentavam a
cidade e atraiam muitas pessoas. Newton não participava das comemorações, era
muito modesto, mas tomava conhecimento de tudo que acontecia durante a
festividade.
O
título de Cachoeirense Ausente, que é tradição até hoje na cidade, foi criado
com intuito de reconhecer uma personalidade a ser homenageado, este que teria
partido como Newton, deixando sua terra amada e ido viver em outra localidade.
Em 1962 no dia da festa de Cachoeiro, Newton Braga recebeu o título póstumo de
Cachoeirense Ausente, ele que amou tanto sua terra, deixou a cidade de luto no
dia 1º de junho do mesmo ano. A lista de Cachoeirenses Ausentes pode ser
encontrada no site da prefeitura de Cachoeiro.
E em 1965,
foi inaugurado o busto de bronze e granito na Praça Jerônimo Monteiro,
homenageando o poeta, este, continha um fragmento do poema “Fraternidade” do
autor. Confira uma fala de Paulo Soares publicada na Revista Cachoeiro, em
2011, ano do centenário do poeta.
“NEWTON: perdoe-nos tê-lo transformado em bronze e
granito. Sabemos que ofendemos a sua modéstia. Mas a verdade é que o seu busto
devia ser esculpido em ouro maciço do mais puro quilate, para simbolizar melhor
o seu incomparável coração, que foi só Bondade.” ( Paulo Soares. Cachoeiro de
Itapemirim, 29 de junho de 1965.)
Em seus escritos Newton
Braga narrava, substancialmente, o
cotidiano, é considerado o poeta que eternizou a cidade. Os versos e as prosas do autor, com
sua sensibilidade inconfundível, registra em livros e artigos seu imenso amor á
seus conterrâneos, pelos mais humildes e pela cidade a qual amou profundamente.
Abaixo fica o poema que tenho mais admiração, que por acaso é aquele que o
fragmento constava no busto do poeta. Eis “Fraternidade”:
FRATERNIDADE (Newton Braga)
É tua esta cantiga, meu irmão mendigo.
Meu irmãozinho jornaleiro, bom dia.
E tu, varredor de ruas, ouve esta
canção.
Carvoeiro, saxofonista, guarda-chaves:
- é esta a oração da minha
solidariedade.
Não, meus irmãos, não é comício
eleitoral,
é o desabafo dessa onda de ternura que
me invade,
e transborda pelo olhos, ao pensar nas vossas
vidas miseráveis,
em vossas vidas anônimas em que ninguém se
fixa.
Bombeiro, que despertas precípite para
ir ao fogo;
guarda-noturno que dormitas de pé, na
noite fria;
linotipista que passas as madrugadas
martelando as colunas dos jornais,
operário que conservas o calor no forno da
olaria;
sertanejo que capinas aos meio-dias
escaldantes:
eu compreendo, e, porque compreendo, exalto o
vosso heroísmo perdido,
a vossa resignação quase bovina,
esse jeito de sofrer a que já vos
acostumastes.
Eu sinto as vossas lágrimas, meus
irmãos desgraçados,
e me embriago convosco, e vou convosco às
macumbas e aos cangarês,
buscar um remédio para a minha vida e para a
minha dor.
Meus irmãos sem nome, meus irmãos de
vida obscura e desconhecida,
tendes felicidades que eu não tenho:
tendes um deus que vos faz crer nele,
tendes uma alma sem ambições desvairadas,
tendes esperanças… tendes ilusões…
É só o que eu tenho, e que vós não
tendes,
– que consolo triste! -
é esta sensibilidade dolorosa que se
comove
com misérias que às vezes mesmo os que as
carregam desconhecem,
esta sensibilidade que é uma antena
delicadíssima,
captando pedaços de todas as dores do mundo,
e que me fará morrer de dores que não são
minhas.
Referências:
BRAGA, Newton. Poesia e Prosa. 2ª Edição. Vitória, ES: UFES, 1993. 213p.
CARVALHO,
Marco Antônio de. Memórias de Cachoeiro.
Rio de Janeiro: Booklink Editora, 2005.
BRAGA, Rachel. BRAGA, Marília. BRAGA, Edson. Newton Braga: cachoeirense ausente. Cachoeiro de Itapemirim, ES:
Gracal, 2011. 226p.