Descobri a arte através da dor quando contraí pólio aos
cinco anos de idade, morando numa fazenda, sem nenhum recurso. De tanto levar
agulhadas das injeções que meu pai aplicava sem nenhuma experiência, meus
braços e “bum-bum”, viraram uma ferida só. Mas até que um dia encontrei minha
salvação, num pedaço de papel de embrulho e um carvão de lenha, rabiscava de
forma lúdica para aliviar a dor, mas minha infelicidade era quando não tinha
mais espaço para o rabisco, e, para conseguir mais papel, eu chorava e dizia
que queria comer pão. Desesperada pelos berros, minha mãe saia a galope em um
cavalo para comprar na única venda da fazenda e, ao retornar com os pães, eu
esperava ela sair do quarto e jogava os pães fora para ficar apenas com o
papel. Assim começou o meu amor pela arte e já sabia o que queria ser!
2 ) Sempre quis ser cartunista?
Sempre gostei de desenho figurativo, mas tive o gosto pelo
cartum só em 1978, quando trabalhava em um jornal, informativo oficial da
prefeitura, “O Momento” que ficava ao lado do mercado do bairro Amarelo.
Bastante rudimentar, utilizando “tipos” - para quem não conheceu esse processo
tipográfico, tinha várias letrinhas de chumbo e para usar uma foto, ou ilustração,
era utilizado o “clichê” de madeira... E olhe que isso foi há trinta e sete
anos. Nessa “engenhoca” eu tinha várias tarefas, fazia revisão de texto, coluna
de cinema, arriscava fazer poesia e escrevia alguns contos e também fazia
cartuns sobre temas diversos, menos fazer critica ao prefeito e aos seus
patrocinadores de campanha! Mas me tornei talvez o primeiro cartunista
brasileiro a abordar de forma critica e humorada a problemática das pessoas com
deficiência em 1981, através dos cartuns que passei a publicar no jornal. Era a única alternativa como canal de
comunicação para denunciar aquele flagelo humano, que, para mim, foi uma fonte
de inspiração e levar ao conhecimento da sociedade.
3) Geralmente você publica seus
cartuns em que veículo de comunicação?
Já colaborei com vários jornais e revistas de Cachoeiro
além de outros estados e países. Atualmente meu trabalho é utilizado em livros
didáticos das principais editoras do país, cartilhas e similares. Nas horas
vagas tenho publicado no “Facebook” e blogs.
4) Você possui livros não é? Quais são?
Sobre os que eles tratam?
Tive a ideia de lançar um livro, uma coletânea dos cartuns
de uma exposição itinerante. Com título “Visão e Revisão. Conceito e
Pré-Conceito” lancei a 1ª edição no ano 2000, durante a realização do "XIX
Congresso Mundial da Reabilitação Internacional”, realizado no Rio de Janeiro.
E, graças à representatividade de congressistas do mundo inteiro, tive a
oportunidade de divulgar o livro pelos cinco continentes representados. Os desenhos
estão também na internet e são bastante utilizados em palestras por
profissionais de diversas áreas, em livros didáticos, cartilhas educativas,
jornais e outros. O livro está na 3ª edição. Lancei um livro sob título,
“Bullying” Vamos Combater Esse Mal pela Raiz?”, resultado de dois anos de
pesquisa, numa época em que quase não se
falava sobre o tema nas escolas e na mídia. A proposta é desmistificar essa
problemática de forma didática com ênfase nas ilustrações, provocar reflexões e
resgatar os valores da família e das instituições. Acho um retrocesso em tempos
que se fala tanto em inclusão social, tolerância no convívio com a diversidade
humana e educação inclusiva. Com essas obras publicadas conquistei uma cadeira
na “Academia Cachoeirense de Letras”!
5) Tem descoberto novos
talentos?
Como arte educador e professor de desenho artístico,
encontrei nos jovens e principalmente nos mais carentes uma “pedra preciosa”
que precisa ser lapidada com políticas públicas de qualidade entre outros
mecanismos. A arte e o esporte são ferramentas indispensáveis como instrumento
de transformação em tempos de debates sobre a redução da maioridade penal, onde
a sociedade só quer punir sem apresentar propostas preventivas.
6) Geralmente
quais assuntos que você gosta de retratar nos cartuns?
Abordo temas do cotidiano e tudo que me deixa indignado. A
charge e o cartum são ferramentas importantes para denunciar, sensibilizar
através do humor. Gosto muito de uma frase do saudoso jornalista Paulo Francis,
“Um cartum vale milhares de palavras para um povo a quem se nega as primeiras
letras”!!
7) Você busca inspiração em que? Onde?
O cartunista é como uma antena sensível e atenta a tudo que
acontece desde o que aconteceu na sua rua e no mundo. É preciso ter um olhar e
senso crítico e ético para abordar os assuntos relevantes ou temas transversais
que não aparece na mídia. Nesse mundo louco onde não sabemos mais o que é
absurdo ou realidade, infelizmente é um “prato cheio” para que o humor possa
falar sério, fazendo cócegas na sensibilidade e despertar o mundo!
8) Como seu trabalho ficou conhecido em
nível nacional e internacional?
Gosto de uma frase do escritor russo, Leon Tolstoi, ”se
queres ser universal, cante a sua aldeia”. Meus cartuns abordavam temas até
então, invisível perante o olhar da sociedade, a exclusão social das pessoas
com deficiência aqui em Cachoeiro de Itapemirim, em 1981, ao me deparar com
cenas “dantescas” de jovens amarrados em suas camas e sequer conhecia a luz do
sol. Levei essa problemática para o cartum de forma humorada e que culminou
numa exposição itinerante que percorre o Brasil e exterior e consequentemente
ganhou visibilidade em nível nacional, nos livros didáticos, nas vinhetas da
Rede Globo, nas revistas internacionais e utilizado através da ONU por meio de
suas agências espalhadas pelo mundo, em palestras sobre a inclusão social.
Nesses 34 anos de luta por Direitos humanos entre outros valores, não quero
aqui mostrar que fui um herói, um suprimem... Fiz apenas a minha parte com
cidadão. Agora que a sociedade amadureceu, depois de muitas barreiras vencidas,
agora cada um deve fazer a sua parte. Vamos conjugar o verbo FAZER? Encerro com
uma frase que me fortalece, “Grandes são os seres humanos que, conhecedores de
seus limites, tornam infinitas as suas possibilidades”!
Alguns cartuns de Ricardo ( fonte: página pessoal do facebook)
EQUIPE “ELEA”
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