Outubro, 2020
por : Marcos
Algo
horrível está acontecendo. O mundo está tomado por uma grande guerra. Talvez a
Grande Guerra. Maior que a primeira e segunda Guerras Mundial. E pensar que
essa desgraça toda ocorre por nossa culpa. Por algo que, por muito tempo,
banalizamos, que pensamos que nunca acabaria. Mas nos enganamos. A água que
pensamos ser eterna, e esbanjamos por aí, gastamos atoa, acabou. Queria que
isso tudo fosse uma pesadelo. Que eu acordasse e tudo voltasse a ser como era
antes. Mas pena isso ser real. Triste realidade.
Estou
preso nesse buraco com algumas pessoas que nunca vi na vida. Alguns drogados,
outros metidos a espertalhões. Sou obrigado a conviver com eles pois quero
continuar vivo. Somos o que “sobrou” da espécie humana. Os outros que restaram
procuram por grupos sobreviventes, como nós, para exterminá-los. Repito: Isso é
um pesadelo! Penso melhor. Isso não é um pesadelo, pois se fosse meu desejo de
acordar e tudo estar bem seria realizado, mas, infelizmente, quando eu acordar
a guerra estará acontecendo.
A menos de
que seja como no filme do Fred Kruger e isso seja um pesadelo onde eu esteja
preso e não consigo acordar, logo eu estarei fugindo da morte brutal como os
personagens do filme. Mas não. Isso não é um pesadelo. Retifico minha fala:
Isso é um inferno.
Acordo e
vejo que estão se preparando para trocar de esconderijo. Não sei se isso seria
uma boa ideia. Pode haver alguém do lado de fora pronto para matar-nos. Mas
precisamos sair. Nossa comida e a pouca água que restou está no final. Temos de
sair e procurar por mais e temos de ser rápidos.
- Aonde
vamos? Pergunto.
- Há
alguns quilômetros daqui temos uma rua que esta destruída, tem escombros por
todo lado, mas é nossa última chance, de passar por um antigo bairro onde tinha
uma feira, bares, restaurantes, supermercados e pagarmos os alimentos que
precisamos. – Contou Íris.

Estávamos andando a algum tempo, e eu sentia que estávamos sendo observados, mas não disse nada, pois, não queria assustar meus companheiros de inferno. Chegamos ao local. Dividimo-nos em dois grupos menores para poder pegar os alimentos. Felipe, Nayla e Carol foram para a feira. Íris, Leonardo e eu fomos para o supermercado.
O local estava bem vazio e escuro. Já haviam saqueado grande parte dos suprimentos. A sensação de que alguém estava nos vigiando continuava. Dessa vez não me contive e comentei:
- Acho que tem alguém atrás de nós.
- Você está ficando paranoico, cara! Disse o Léo.
- Verdade, não vi ninguém nos seguindo. Pare de inventar bobeiras para
nos assustar. Esbravejou Íris.
- Beleza, não está mais aqui quem falou! Eu disse.
Fiquei
nervoso, mas não quis demonstrar nada. Saí de perto deles em busca de algo que
me lembrasse da infância: aquele potinho de pudim de chocolate. Deveria estar
na seção do frios, que ficava no outro lado do mercado. Não me importei e
deixei os dois para lá e fui atrás do meu pudim.
Quando já
estava bem afastado deles, deixei algumas lágrimas escaparem de meus olhos.
Enjuguei meu rosto com as costas da minha mão e continuei meu trajeto. Ouvi
barulho de tiro. Porra, pensei, é agora que eu morro. Corri e me escondi.
Alguns minutos se passaram e o local estava um verdadeiro silêncio. Ouvi alguns passos vindo em minha direção, falando:
- Marcos,
onde é que você está?
Era uma
voz feminina, bem familiar. Saí do meu esconderijo, e vi Íris, mancando, e
carregando uma arma na mão. Corri e ajudei-a. Percebi que ela tinha levado um
tiro na perna e estava perdendo muito sangue. Há alguns anos, comecei a cursar
medicina, mas logo abandonei. Ainda lembrava de algumas coisas de emergência.
Tirei meu casaco e amarrei em sua perna para estancar a hemorragia.
Voltei
minha atenção para a mão dela e de novo percebi a arma. Perguntei o que tinha
acontecido. Ela me explicou que um homem entrou no mercado e começou a atirar
em sua direção e do Leonardo. Me disse também que ele havia lutado com o homem,
e perdera o Léo de vista. Ela recebeu um tiro na perna, mas conseguiu ganhar a
luta e o matou.

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