1.2.3.4.5.6.7.8.9.10
segundos, se eu tivesse cronometrado o tempo do meu encontro com aqueles rapazes.
Pode até ser esse o tempo dos homens, mas no relógio de minha reconstituição
dos fatos, o incidente pareceu que durou horas e horas. Mas, foram segundos.
Domingo apático, carros barulhentos, pessoas conversando, um
vai e vem. Um vem e vai, o padre dando a benção final, a garçonete entregando
os pedidos, o cliente conferindo o troco. Carros, ônibus, carretas, carros e
mais carros. Motocicletas, motoqueiros, motobandidos, um assalto! Sim, eles
estavam armados. Sim, não deu tempo de gritar. Sim, foi um deslize. Sim - eu já
lhe respondo prevendo seus julgamentos do tipo “você sabe como essa cidade é
perigosa, por que ficou com o celular em mãos”? Sim, eu posso lhe mandar para
um lugar chamado puta que o pariu?!
Acho que as pessoas esquecem que o celular não é somente um
objeto de entretenimento, mas também um objeto de necessidade. Será que nós que
temos que nos culpar por usarmos os celulares em público? Será que temos que
sentir remorso por usufruir de um bem material que custou tanto para conseguir?
Ops, quem são as vítimas nessa sociedade miserável? Somos, nós, pessoas honestas
e trabalhadoras? Ou serão eles – talvez vítimas de uma família desestruturada e
órfãos de carinho, sentimentos, humanidade e de alma.
Corro. Corro. Corro. Corro por três quarteirões, ainda
desorientado, parecendo até que eu havia usado uma dessas drogas alucinógenas –
que dá até para ver dragões, duendes e fadas dançando de mãos dadas. Vejo
vultos, ouço vozes, mas a ficha ainda não caiu. Susto, pânico, terror e medo
ainda percorre minhas veias. Abro a porta da delegacia sou fintado por fardas
humanas, que mesmo percebendo minha indignação, demonstram-se indiferentes. Eu
era apenas mais um, quer dizer, só mais. Espero, espero, esperooooooooooooo por
minutos intermináveis. A ficha cai, e o choro sai. Me descontrolo.
Todos nós estamos sujeitos a esse tipo de evento! Nessas
situações nos sentimos humilhados, nos sentimos um "zé ninguém",
afinal você foi mais um e na rotina deles isso é normal. Mas,
nós, não somos "eles". Nós, não somos "ninguém". Somos mais
um dado numérico, na planilha do sistema, que será esquecido amanhã. Ou quem
sabe, daqui meia horinha.
Lembro-me até das palavras ácidas de Braga, afinal me senti
um “silva”. Que dizia “que os Silva somos nós. Não temos a mínima importância.
Trabalhamos, andamos pelas ruas e morremos. Saímos da vala comum da vida para o
mesmo local da morte”. Entretanto, neste caso não teve morte, e com isso, dessa
vez, não acrescentei outro dado estatístico na planilha do sistema.
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