Ficha Técnica:
Título: Sangue Quente.
Autor: Isaac Marion
Editora: Leya.
Páginas: 252.
Este ano, eu resolvi rever alguns
filmes que foram lançados e que ainda não tinha visto que eu acabei deixando de
lado e um deles tinha sido o filme “Meu Namorado é Um Zumbi”, que é um filme
originado do livro “Sangue Quente” (clique aqui para ler a resenha do filme). É
fato que os títulos do filme e do livro não tem absolutamente nada a ver, por
isso, fiquei curiosa em relação a obra. Recebi muitas críticas negativas quanto
ao filme, e realmente, não é lá o filme perfeito, que dê margem para muitas
análises. Entretanto como sempre a obra é muito mais rica que o filme.
Nas primeiras notas do livro, já
identificamos que ele é dedicado a crianças órfãs, então já dá pra perceber que
os zumbis são, provavelmente, uma metáfora sobre essa condição humana. O que
nos dá o que pensar, como será a vida nos orfanatos? E depois que os órfãos
crescem? De certo modo, os zumbis de Isaac Marion são o reflexo da vida e
sentimentos que podemos ter ou ser em orfanatos. Os zumbis acordam solitários,
sem se lembrar de família ou coisa alguma de suas vidas, sem identidade, eles
só sabem vagar e conseguir alimentos, o que nós põe a pensar: quantos homens
existem nas esquinas das ruas exatamente desta forma, somente vagando em busca
de sobrevivência?
Os zumbis de Marion vivem no
aeroporto, representando, por ventura, nosso ir de vir constante sem se atentar
com a nossa volta, o que nós torna reais mortos-vivos. Esquecem de seus nomes,
seus marcadores identitários e somente emitem grunhidos, sem se relacionar
socialmente (tem muita gente que anda por ai assim…). Contudo é irônico que as
instituições sociais, como casamento, escola permanecem, mesmo que puramente só
por existir. Mesmos mortos, os seres humanos precisam de algo para se segurar e
tentar parecer mais vivo.
“Parece que ainda tem algo valioso
naquela esponja cinza e murcha, porque se perdemos nossos cérebros, viramos
defuntos.” p.17
Outro coisa a se atentar, eles não
estão mortos, ser zumbi é uma fase intermediaria para a morte. Outra coisa
interessante foi como a alimentação foi desenvolvida no livro, eles comem
humanos, claro, mas a parte que mais me impressionou, foi quando eles se
alimentam do cérebro do outro para ter um pouco de vida e de sensações. É uma
escolha feita por ele se alimentar de cérebros, o personagem principal, ‘Ar’,
guarda pedaços de cérebro que conseguiu para viver aos poucos.
“Estar morto é fácil.” p.19
Agora, o melhor são as trilhas
sonoras que ‘Ar’ ouve que vai de Frank Sinatra a Guns’n Roses, o que me conquistou.
‘Ar’, clama por vida e sensações, tentando ter humanidade a qualquer modo, seja
comendo cérebros, roubando objetos de sua refeição ou tentando fazer algo mais
humano, como ouvir música.
“Quod
tu es, ego fui, quod ego sum, tu eris”. (O que você é, eu já fui um dia. O
que sou, você se tornará.)
p.62.
“Quero ponto de exclamação, mas estou me afogando em elipses.”
p. 63.
A narrativa não é muito linear, já
que é interrompida sempre pelos pensamentos dos cérebros comidos. Então, somos
levados para a vida de outros personagens pela perspectiva do morto-vivo. Com
poucos diálogos, mais ‘pensamentos’ que ‘Ar’ narra e as descrições dos
pensamentos dos cérebros, aliás, comer cérebro é como uma droga Alucinante.
“—Não existe uma referência certa de como a vida deve ser, Perry. Não há
um mundo ideal que você possa esperar que apareça. O mundo sempre foi mesmo,
depende de você saber o que fará nele.” p.123
Outro ponto que queria comentar é que
achei alguns erros no texto, frutos da tradução, ou mesmo de digitação do
texto, o que me incomodou durante a leitura, já que gosto tanto da LEYA, mas
não sei se foi um problema só da minha edição, mas…
Enfim, achei a sacada de mesclar
metáforas da condição humana dessa forma genial, gostei infinitamente mais do
livro que o filme. O filme deixa escapar muitos detalhes que são cruciais para
o entendimento maior do livro, as frases e os pensamentos de ‘AR’, o que é todo
o livro, tenho certeza de que não vão se arrepender da leitura!
“Nós
seremos a cura. Porque queremos ser.” p.252
Confesso que não é dos meus favoritos, mas super gostei da história e vou pesquisar mais.
ResponderExcluirObrigada pela dica, bjs ♥