- Baixando! - Exclamou ele - Agora vou poder acabar com essa
raça. Essa corja da sociedade. Farei um favor ao mundo, eles terão de me
agradecer.
- Pronto. Instalando.
- Abrir aplicativo.
- Hmm, registrar.
- Nome...? Caçador. Isso, um ótimo nome, pois estou indo à
caça desses animais.
- Foto? Opa! Vou ao espelho tirar umas minhas. Eles não
resistirão. Afinal, anos de academia tem resultados e sei que isso os atrai.
Conversava, ele, consigo mesmo.
Tirou as fotos mostrando seu físico perfeito, postou no
aplicativo, mas sem mostrar o rosto, não queria se identificar. Estava tudo
pronto. Agora era só partir para o ataque.
Menos de um minuto e já tinham três solicitações de
conversa. Essa caçada seria fácil para ele.
- Apimentado – haha! Esse será minha primeira vítima, pensou.
“- Oi, tudo bem?
- Sim, ótimo. Gostei de você, quero saber se é apimentado
mesmo.
- Com toda a certeza, você vai adorar.
- Beleza, vamos marcar”
Caçador e Apimentado marcaram em um lugar afastado da
cidade, na chegada de um pequeno distrito onde moravam poucas pessoas e nenhuma
saía de casa depois das 19 horas. Um lugar sem iluminação e as luzes que
apareciam eram das casas afastadas do local. Um lugar perfeito para cometerem
tal ato.
- Você não se importa de ser em público assim, não é? -
Perguntou o Caçador.
- Nem um pouco, adoro correr riscos. Mas se bem que aqui não
é tão arriscado. - Respondeu Apimentado, entre risos.
- Certo, então, vamos começar. Tire sua roupa! - Ordenou
Caçador - E me espere, preciso de algo que está o carro.
Apimentado obedeceu. O lugar estava escuro. Caçador vai até
o carro e pega um objeto que seu colega não reconhece.
- O que é isso? Perguntou Apimentado.
- É uma surpresinha. Encoste no carro com as mãos e de
costas para mim. Ande!
- Opa, adoro essas surpresinhas.
Apimentado obedece. Caçador aproxima-se dele, levanta o
misterioso objeto e bate-o com força na cabeça do outro que desmaia e cai no
chão. Caçador volta ao carro e pega um punhal e enfia no coração do homem
desmaiado. Após isso, vira-o e risca em seu dorso a letra “X”. Como inspiração
e prêmio da caça, ele corta o pênis do homem e guarda em uma sacola.
Caçador joga-o no canto da estrada, volta ao carro e segue
em direção a sua casa. Chegando lá, ele limpa o sangue dos instrumentos usados
em sua caçada, apanha a sacola que estava com sua recompensa, limpa o sangue do
objeto e guarda-o em um pote com formol. Vai para o seu quarto e dorme na
esperança de ter a mesma sorte em sua caça do próximo dia.
Caçador acorda, no outro dia, animado para sua
próxima presa. Vai à cozinha prepara um café reforçado, afinal precisaria de
forças para a nova aventura. Ele estava tão animado que mal podia esperar e,
ainda tomando o café, pegou seu celular à procura da próxima vítima.
Olhou vários perfis que haviam lhe mandado mensagem
procurando sua melhor opção. Escolheu um perfil não tão chamativo quanto o
anterior com o nome de “Discreto”. Era isso que ele queria, discrição.
Respondeu sua mensagem e marcaram o encontro para a
tarde daquele dia. Discreto era casado e tinha dois filhos. A esposa estava no
trabalho e as crianças na escola. Ele estava de férias, assim, tinha a casa
inteira para ele.
O celular do Caçador vibrou, ele o pega e lê a
mensagem:
“Discreto: Quando chegar ao prédio fale com o porteiro
que é meu amigo e assim ele o deixará subir. Te espero!”
Alguns minutos se passaram, Caçador chega ao prédio
de sua vítima, fala com o porteiro e sobe. Ele usava óculos de sol, para poder
esconder seu rosto e dificultar um possível reconhecimento.
Ding! Dong! Soa a campainha do apê de sua vítima.
Discreto abre a porta, eles se cumprimentam:
- Opa, tudo bom? Perguntou Caçador estendendo a
mão.
- Tudo bom. Entra e fica à vontade. Disse Discreto,
apertando a mão de Caçador.
Caçador entra e assim que Discreto dá as costas
para fechar a porta, ele tira um punhal de seu bolso e apunhala a vítima por
trás e bem ao lado da coluna. Discreto cai ao chão. Caçador continua o
golpeando com o punhal até a morte.
Depois, como em sua primeira caça, Caçador marca o homem
com um “X”, pega seu prêmio e guarda em um saco plástico. Carrega o homem morto
até o quarto do casal e o coloca em cima da cama. Vai até o banheiro e limpa o
sangue de suas mãos. Sai rapidamente do apartamento e volta para sua casa para
guardar seu troféu.
Ainda estava cedo e tinha tempo para mais uma
caçada. Pegou o celular e dessa vez não respondeu ninguém que lhe havia enviado
mensagens, mas puxou assunto com um perfil novo no aplicativo.
Esse novo perfil tinha o nome de “Predador”.
Caçador pensou com ele: Predador?! Hahaha! Mal sabe ele que será a presa. A
minha presa. Caçador queria que sua vítima fosse o Predador por eles terem os
corpos parecidos. Predador também era malhado. Caçador pensou que com um perfil
assim essa caçada seria diferente, seria mais desafiadora que as anteriores.
Eles marcaram de se encontrar a noite numa casa abandonada no bairro. Os dois moravam no mesmo bairro. Caçador foi o primeiro a chegar. Entrou no local e ficou esperando sua vítima.
Após um tempo, Predador chegou e entrou, com
cautela, no lugar. Eles se cumprimentaram. Estava escuro e eles não viram os
rostos um do outro. Conversaram por mais um tempo e Caçador disse:
- Sua voz não me é estranha!
- Nem a sua é estranha para mim.
Os dois, ao mesmo tempo, pegaram o celular e
ligaram a lanterna.
- Você?! Disseram os dois em uníssono.
Caçador e Predador eram amigos e malhavam juntos.
Os dois ficaram surpresos pois não esperavam isso. Em suas conversas, na
maioria delas, eles debatiam sobre o ódio deles pelos homossexuais e exultavam
sua macheza.Depois de alguns segundos de silêncio. Predador disse:
- Não sabia que você era uma bichinha, seu filho da
puta! É agora que isso vai ter um fim. – E tirou um revólver que estava
escondido em suas costas.
- E eu não sou, otário. Calma, isso aqui é apenas
um plano pra...
Pow!
Caçador não conseguiu terminar sua fala. Predador
havia acertado em cheio seu coração com um tiro e morreu na hora. Para a
infelicidade de Predador, nesse exato momento, do lado de fora da casa
abandonada, passava um policial que morava perto do local e estava chegando do
batalhão. O policial entrou, em silêncio, na casa, aproximou-se de Predador e o
acertou com uma coronhada. Predador desmaiou e foi preso.
Chegado
na delegacia, Predador foi interrogado do porquê de ter matado o outro homem e
ele respondeu:
-
Ele era um viadinho de merda e eu preciso de acabar com essa raça. Ele se
intitulava Caçador, mas no final ele foi minha caça. E se não fosse por esse
policial eu mataria muitas outras bichas nesse mundo, transformando-o em um
lugar puro. Onde os merecedores, nós héteros, poderíamos viver em paz.
O
delegado levantou e deu um tapa na cara do preso e ordenou que os guardas
levassem ele para a cela. Lugar que ele passaria o resto da vida. E ainda
disse:
-
Vou garantir que esse lugar seja um inferno para você, porque eu sou gay e não
vou permitir que um preconceituoso como você se safe dessa... Ah, e obrigado!
-
Obrigado pelo quê? – Perguntou Predador em choque com a revelação do delegado.
E pensou, intrigado, como um delegado poderia ser gay.
- Obrigado por ter se livrado do Caçador. Chegou
mais cedo, para nós, a denúncia de um homem que matava homossexuais e tirava
seus pênis como troféu. Ele já tinha feito duas vítimas e você seria a próxima.
Pegamos o celular da última caçada dele e descobrimos seu apelido no aplicativo
e estávamos em busca dele. Você poupou nosso trabalho. Agora levem-no daqui,
guardas!
Em sua cela, Predador pensava no que tinha
acontecido, pensava no quanto sofreria dali pra frente por ter matado um amigo
que queria a mesma coisa e se arrependia do crime e da ideia de se livrar dos
gays.
Agora sem seu amigo e sem liberdade, sem mais ser o
Predador nem a presa. Aquilo era resultado de uma caçada e como a caça de
animais ele viveria como um. Como um animal caçado e preso em cativeiro.
Marcus da Costa, ganhador do Reality " O Roteirista", em 2014.
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