Olá, queridos eleanáticos. Tudo bom com vocês? Já estava
morrendo de saudades desse quadro tão querido, o Resenhas do Abou. Para a nossa
resenha de hoje, escolhi um livro que li há pouco tempo para uma disciplina da
minha faculdade (de Letras). Nunca tinha ouvido falar no nome dessa autora nem
do livro. Mas pude conhecer muito mais sobre ela com ‘‘Por que a criança
cozinha na polenta’’, uma obra surpreendente. Porém, infelizmente, o acesso a
essa obra não é tão fácil. Ela possui venda em alguns sites online, apenas. Mas
vale muito a pena!
‘‘Talvez
nossos pais tenham nos vendido. Isso acontece na Romênia’’. (p. 89)
‘‘O
tempo congela.’’ (p. 98)
Esses
dois trechos fazem parte do livro de hoje, que traz uma realidade bem única, de
uma menina romena de família circense que está refugiada em outro país. A
história é bem cruel, já que ela e sua irmã mais velha são enviadas para um
internato. Neste momento, os pais, em um lugar distante, se divorciam e, um
tempo depois, a irmã da protagonista é levada para morar com um pai, com o qual
possui uma relação, no mínimo, ‘‘estranha’’, já que é dito que ele chegou a
quebrar uma das pernas da filha para que ela não ficasse com outro homem.
Mas,
falando do internato, é nele que essa irmã conta para a protagonista a história
na qual se cozinha a criança na polenta. Sim, é isso mesmo! A criança cozinha
na polenta, não a polenta! Estranho? Talvez. Mas essas meninas levantam
diversas hipóteses para tentar entender essa barbárie. E é exatamente essa
questão que é o título da obra. Retomando a primeira frase que eu citei, eu
mesmo tive essa dúvida, se aquele internato era uma farsa. Entretanto, parece
que não era uma mentira não…

Adaptação para o teatro pela Cia. Mugunzá (SP)
A
infelicidade da protagonista, que também é a narradora, aumenta quando ela é
separada da irmã, que passa a morar com o pai. Um tempo depois, ela volta para
a mãe e as duas conseguem um novo emprego, numa espécie de boate, na qual a
menina faz danças e participa de truques de mágica. Esse novo trabalho a deixa
numa situação ainda maior de exposição.
Um
aspecto que eu sempre destaco nas resenhas e hoje não poderia ser diferente é a
linguagem. Apesar de ser um livro sobre infância, ele não é infanto-juvenil,
pois a trama é bem pesada, como eu já disse. Mas a linguagem é de fácil
entendimento, por ser uma narrativa infantil. Outra curiosidade é a
diagramação. Os parágrafos não são ordenados da maneira tradicional. Essa é uma
característica bem marcante e singular do livro de Aglaja Veteranyi.
Voltando
ao título ‘‘Por que a criança cozinha na polenta’’, questionei-me bastante
sobre ele. O que essa história tem a ver com a história da menina? O que seria
‘‘cozinhar na polenta’’? Será que é uma metáfora ou será que se cozinha,
literalmente, uma criança junto da polenta, numa grande panela?

Tais
dúvidas me deixaram com uma pulga atrás da orelha e resolvi pesquisar sobre a
autora e sua vida. Descobri que sua infância também foi viajando, já que os
pais eram do circo. Eles saíram da Romênia, devido à ditadura. Até aí, tudo
muito parecido com o livro, afinal, nele, há várias referências ao regime
ditatorial. Diante dessas informações e das minhas impressões, ainda me
pergunto: será que a narradora é a própria Aglaja Veteranyi?