Sabe, é difícil pra um pai que tem seu primeiro filho homem
fazer isso. O momento certo de iniciar a vida sexual do filho. Fiquei todo
desajeitado, viado. Eu já tinha levado ele na Vila Rubim umas duas vezes e não
tinha tomado coragem de entrar lá com ele, logo eu que passei pelo mesmo. Foi
lá que meu pai me levou também. Mas eu, olhando ele comer a coxinha com a graça
toda concentrada no mindinho levantado, não tinha como: de hoje não ia escapar!
Tinha ou não tinha orgulho do meu filho homem?! Seus braços finos, as unhas
impecavelmente feitas, e os cílios arqueados naturalmente.
Ele, Shenisley, tinha acabado de fazer quinze anos - minha
Deusa!, como passa rápido pra um pai. Já era hora dele saber a parte boa da
vida. Se a gente não interferir vai que cai pro outro lado, né viado? Aí, virei
para ele, hoje você vai aprender a ser viado! E ele, ele tirou o foco da
coxinha e me olhou com aquela cara de olho brilhante de bicha novinha? Santa
Gal! Não tem aquela idade quando os pelos do bigode - misericórdia! - os pelos
do sovaco começam a crescer tudo embaixo e lá atrás também? Tudo nele estava
assim: adolescenta! Mas viado só aprende a ser viado em sauna. E ele me
perguntando com os olhos brilhantes, onde, né? Na sauna, meu filho.
E ele não
pode acreditar. Ficou de olhos arregalando, me perguntou todo com as mãos
sacudindo se era sério? Se eu ia deixar ele ir pro quarto escuro com um tipo
caminhoneiro de mão grande; se ele podia fazer tudo. Como sabia tantos
detalhes? Calma, calma, Shenisley! Foi um alívio. Já pensou você vira pro seu
filho e tem um orgulho desse? Esse gosta de homem mesmo! Só de ouvir falar em
sauna pra macho, graças a Deusa! Só de ouvir falar em tanga; em pelos fartos no
peito; barriga de cerveja; barba arranhada; veias à mostra, saltando,
pulsantes, e, e pra reforçar os olhinhos que não acreditavam: vamos na sauna
sim! Shenisley me abraçou todo afoito!
É, comigo não foi fácil assim, meu pai teve de forçar, ser
vigilante. Admito que quando mais novo eu enveredava pro outro lado dum rabo de
saia, mas a Deusa que é justa a tudo transforma e sou o que sou hoje: um viado
de classe; casado tem quinze anos; filha lésbica na graças da Deusa e esse
agora, pelo fogo de Santa Inês!, com esse não vou ter trabalho na vida, até a
chuca ele disse que já tinha feito, acredita? É muito orgulho ter filho viado!
por: Hugo Augusto Estanislau, bancário e formado em Letras, pela UFES. Autor de "Boneca atrás da feição Oca", publicado em 2016.
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