Parte 1
São Paulo, 27 de junho de 2017
O.J.S
era um desses policiais que a gente está acostumado a ver. Um metro e oitenta,
bruto. Desses banhados à testosterona. Não tenho certeza quanto ao seu estado
civil, casado ou solteiro. Não tivemos tempo de discutir isso. E, acredito eu,
não teremos. Escrevo esse relato para contar o que aconteceu e o que,
posteriormente, será feito. Era sexta-feira à noite, já passava das 22h. Eu e
meus amigos conversávamos numa mesinha de bar quando eu o vi pela primeira vez.
Há 18 dias.
Ele
e outro policial passaram na viatura fazendo a ronda noturna. Houve uma troca
de olhares como a de uma caça fitando a presa. Meus amigos e eu tomamos algumas
cervejas, comemos alguns petiscos e às 23h30min deixamos o bar e íamos embora.
Eu morava há 20 minutos dali, caminhando. Sozinho, segui para casa. Alguns
minutos depois, percebi que um farol de carro me seguia. Relutante e com medo
olhei para trás. Tal qual foi meu alívio ao perceber que era ele, sozinho na
viatura.
-Tudo
bem, senhor? – ele perguntou parando o carro próximo à calçada.
Sua
voz era firme e impunha respeito.
-Está
sim, estou indo para casa – respondi.
-Entra
aí, eu te levo – ele disse abrindo a porta do carona.
Eu
nunca na vida pensei – e desejei – entrar em uma viatura policial.
-Não
precisa, é logo ali na frente.
-Não
é não, falta um bom caminho ainda. Vamos!
-Mas
é que o senhor...
-Eu
já estou finalizando a ronda, para entregar o plantão ao próximo.
Sem saber como argumentar, entrei.
Percebi um cheiro de cerveja ali dentro e confirmei ao pisar em algumas
latinhas ao pé do banco.
-Final
de expediente, sabe como é né...
Seguimos
em silêncio durante o percurso quando ele, surpreendentemente, parou em frente
à minha casa.
-Chegamos,
Rodrigo. Boa noite.
-Como
o senhor sabe o meu nome e onde moro?
-Escutei
seus amigos te chamando no bar.
-E
como sabe que eu...
-Preciso
ir – ele me interrompeu com uma voz grave como quem ordena algo.
Agradeci
pela carona, saí do carro e enquanto trancava o portão notei que ele me
observava pelo retrovisor. Eu era um inseto na teia de aranhas.
No
dia seguinte, levantei cedo como de costume e tomei meu café antes de fazer
umas tarefas da faculdade. Você, que encontrar essa carta, certamente saberá
que eu curso engenharia. Fiz minhas tarefas, almocei, tomei meu banho e segui
para a faculdade, hoje eu teria as três primeiras aulas apenas. A faculdade
fica próxima ao barzinho da noite anterior e sempre que dá paro lá após as
aulas para comer alguma coisa.
Terminei
as aulas, fui ao barzinho e enquanto procurava meu celular na mochila, alguém
se aproximou.
-Posso
me sentar aqui com você?
Ao
levantar a cabeça, percebi que era ele, de novo, o policial. Agora, sem a
farda, ele vestia uma camisa branca e bermuda. E tinha um perfume bom – ao
contrário daquela noite.
-Sim,
claro – respondi.
-O
que você quer beber? Um café, um suco? Por minha conta.
Eu estava ali, numa mesinha de bar, sentado com um
policial que eu não sabia o nome, apenas as siglas O.J.S. Mas segui com a cena,
aparentando ser íntimo dele.
-Um
suco de laranja.
Ele
chamou o garçom e fez os pedidos: dois sucos de laranja, com gelo.
-Obrigado
– respondi – mas como o senhor sabia que aquela era minha casa? Perguntei com
certo receio.
-Eu
sou o responsável por aquela região. Conheço boa parte dos moradores e sabia
que você morava ali pois eu o conhecia de vista apenas.
-Entendi.
A
explicação dele me acalmou um pouco mais.
-Aliás,
meu nome é Oliver. E pode me chamar de você.
-Prazer
– eu respondi estendendo a mão para cumprimentá-lo – eu sou Rodrigo, você já
sabe.
Ele
riu.
-Então
Rodrigo, o que você faz?
-Curso
engenharia civil, segundo período.
-São
quantos no total?
-10,
cinco anos.
-Bastante
tempo.
-Pois
é.
Por um tempo ficamos em silêncio,
que foi quebrado com o garçom que trazia as bebidas.
-Eu
estou na corporação há 4 anos já. É um serviço complicado, mas é o que eu
gosto.
Apenas
acenei com a cabeça.
-Vai
fazer o quê depois daqui? – ele questionou.
-Vou
para casa, tenho que terminar um relatório para amanhã.
Oliver
me parecia amigável – fora da farda e da viatura. Devia ser assim com os demais
moradores, imaginei. Conforme disse, ele pagou a conta e íamos embora – eu, ao
menos, iria para minha casa, ele eu não sabia. Não naquele momento, mas agora
eu entendo as reais intenções dele.
No
caminho ele disse que precisava ir ao banheiro. Entramos no shopping e o
acompanhei. Não havia ninguém ali. Eu estava entrando na cabine quando ele me
empurrou com força contra a parede. Assustado, perguntei o que estava
acontecendo. Ele tapou minha boca com uma das mãos e disse pra eu ficar quieto.
Com a outra mão tirou uma algema do bolso da bermuda e me algemou. Colocou-me
de frente pra ele, sussurrou em meu ouvido para que eu ficasse quieto e
vorazmente me beijou.
(Continua...)
por Ailson Lovato
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